quarta-feira, 24 de dezembro de 2014


Venina teria causado prejuízo de R$ 25 milhões a Petrobras, diz jornal

Sindicância da estatal apontou que ex-gerente foi responsável por 4 irregularidades.

A ex-gerente executiva da área de Abastecimento da Petrobras, Venina Velosa da Fonseca, que surgiu recentemente na mídia com denúncias de que teria alertado a estatal sobre irregularidades, teria causado um prejuízo de R$ 25 milhões à Petrobras enquanto estava na estatal, informa o Estado de S. Paulo. Relatório final de sindicância responsabiliza a ex-gerente por quatro das nove irregularidades classificadas como “não conformidades”, constatadas nas obras da Refinaria Abreu e Lima, que elevaram gastos e indicam existência de cartel.
De acordo com o jornal, Venina e Pedro Barusco são apontados diretamente como responsáveis pelas antecipações de obras, a mando de Paulo Roberto Costa, que elevaram em R$ 4 bilhões os custos de Abreu e Lima. Em uma das irregularidades, informa o jornal, Venina é citada em um contrato com uma empresa do cartel, alvo da Operação Lava Jato, que desconsiderou um  desconto de R$ 25 milhões. Ao todo, as nove irregularidades teriam causado uma elevado de custo de R$ 4 bilhões para a refinaria, orçada em R$ 2,5 bilhões e que já custou R$ 24 bilhões.
Segundo a sindicância, em março de 2007, Venina emitiu documento propondo “a elaboração de plano de antecipação do início das operações da refinaria” em que constava a conclusão de que “será possível a inauguração da Refinaria do Nordeste”. Ela atuou, ressalta o jornal, em pedido de Costa, seu superior, feito um mês antes.
“Estes fatos, associados às declarações do senhor Paulo Roberto Costa, indicam a possibilidade da existência de um processo de cartelização relativo às empresas indicadas nos processos analisados”, registra a sindicância, realizada por seis servidores de carreira.
O documento de 88 páginas responsabilizou, além de Venina, o ex-gerente de Engenharia Pedro Barusco, os ex-diretores Paulo Roberto Costa e Renato Duque. Venina é acusada, informa o jornal, por omitir informações da Diretoria Executiva sobre mudanças de valores e objetos em contratos, inclusão de empresas do cartel que não atendiam ao critério de seleção, após início do processo licitatório, não apresentação de parecer jurídico para aprovação de contrato e erro formal de inclusão de empresa em concorrência.
Alusa Engenharia
De acordo com o Estado de S. Paulo, um dos contratos com problemas relacionados à Venina é para contratação da Alusa Engenharia, alvo da Lava Jato, para construção da Casa de Força (Cafor), por R$ 966 milhões, em 2008 -- valor 272% acima do orçado. Venina e os demais servidores teriam deixado “de considerar descontos negociados entre setembro e novembro de 2008, com a Alusa Engenharia, da ordem de R$ 25 milhões”. Mesmo quando o contrato foi encerrado, aponta a sindicância, teriam sido iniciadas negociações atípicas de desconto com a empreiteira, que resultaram em quatro propostas, endereçada à Venina Velosa da Fonseca. 
Venina teria trocado uma sequência de e-mails com outros gerentes envolvidos na contratação da Alusa. Um dos e-mails, de Paulo Cesar Silva, então gerente de Planejamento e Gestão da Refinara Abreu e Lima, informava que o valor do contrato “encontrava-se 272% acima do valor orçado” na fase dois da concorrência. Depois, Venina teria enviado dois e-mails para Francisco Pais, então Assistente do Diretor de Abastecimento, e Paulo Cezar Amaro Aquino, então Gerente Executivo do Abastecimento-Petroquímica.
“Somente ontem à noite tomei conhecimento destes números. Quando assinei a pauta da DE (Diretoria Executiva) isto não foi citado”, informou Venina. “Os desvios são grandes e isto me preocupa muito. Hoje na reunião com o (Pedro) Barusco abordaremos esta questão”, conclui Venina.
Por conta das “não conformidades”, lembra o jornal, Venina e outros quatro ex-gerentes, subordinados a Costa e Duque, perderam o cargo de chefia em novembro. Na ocasião, Venina ainda não havia aparecido em público para realizar suas denúncias.
Graça Foster, em entrevista ao JN

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Políticos envolvidos na Lava Jato serão investigados em 2015

Os políticos envolvidos no esquema de corrupção e pagamento de propina na Petrobras, deflagrado na Operação Lava Jato, só serão investigados a partir de fevereiro do ano que vem.
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai esperar a volta do recesso do Judiciário para encaminhar ao Supremo Tribunal Federal (STF) os pedidos de abertura de inquérito contra parlamentares e autoridades citados nas delações do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Youssef.
O Poder Judiciário entra em recesso nessa sexta-feira, 19, e o STF permanecerá em esquema de plantão até o dia 31 de janeiro. Nesse período, só são tomadas decisões em medidas urgentes pelo ministro em plantão.
Por isso, Janot vai levar os inquéritos ou eventuais denúncias - se não for necessária investigação - contra os políticos apenas em fevereiro. Ele já havia informado que, com a análise das delações de Youssef e Paulo Roberto Costa, já tinha elementos suficientes para pedir ao STF o "desmembramento" dos casos.
Permanecerão no Supremo inquéritos contra parlamentares, autoridades com prerrogativa de foro e casos em que a atuação no esquema estiver diretamente ligada aos políticos.
A delação de Alberto Youssef já foi encaminhada pelo PGR ao relator da Lava Jato no STF, ministro Teori Zavascki. Cabe ao ministro homologar a delação, assim como fez no caso de Paulo Roberto Costa.
Nas delações feitas em Curitiba (PR), Costa e Youssef citaram "dezenas" de parlamentares, segundo o próprio ex-diretor. Eles relataram repasses para políticos como os senadores petistas Gleisi Hoffmann (PR) e Humberto Costa (PE), além de partidos como PP e PMDB e do tucano Sérgio Guerra, que morreu em março. A Polícia Federal também interceptou diálogos entre Youssef e os deputados André Vargas (sem partido-PR) e Luiz Argôlo (SD-BA).

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014


Mais nove investigados na Lava Jato se tornam réus em ação penal; restam 20

Por iG São Paulo | - Atualizada às

Juiz federal aceitou denúncia do MP contra funcionários de alto-escalão das empreiteiras OAS e Galvão Engenharia

O juiz federal Sérgio Moro aceitou, nesta segunda-feira (15), as denúncias contra outros nove dos investigados na Operação Lava Jato. Assim, dos 39 denunciados pelo Ministério Público Federal nos últimos dias – além dos 36 da semana passada, o MP denunciou no domingo (14) mais três pessoas: Nestor Cerveró (ex-diretor da área Internacional da Petrobras), o lobista Fernando Soares, e o executivo da Toyo Setal Júlio Camargo –, 19 já se tornaram réus na ação penal que investiga desvios da Petrobras.

Gil Ferreira/Agência CNJ/Divulgação
O juiz Sérgio Moro: aos poucos, denunciados do MPF vão se tornando réus de ação penal

Na sexta-feira (12), Moro já havia aceito denúncias contra nove dos investigados, quase todos ligados a grandes empreiteiras – além do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa. O mesmo se repetiu no domingo e nesta segunda, quando grandes nomes da própria Petrobras, da OAS e da Galvão Engenharia passaram a integrar o processo.
Leia mais:
Ministério Público denuncia 36 pessoas investigadas na Operação Lava Jato

Pela OAS, tornaram-se réus no caso Mateus Coutinho de Sá Oliveira (funcionário), José Ricardo Nogueira Breghirolli (contato de Youssef com a empreiteira), José Adelmário Pinheiro Filho (presidente), Fernando Augustro Stremel Andrade (funcionário), Agenor Franklin Magalhães Medeiros (diretor-presidente da área internacional) e João Alberto Lazzari (representante).
Leia também:
Supremo nega liberdade a onze presos na Operação Lava JatoHeranças do julgamento do mensalão vão guiar processo da Lava JatoMPF quer o bloqueio integral de ativos de investigados na Lava Jato

Além deles, à tarde o juiz aceitou denúncia contra três executivos da Galvão Engenharia: o executivo Eduardo de Queiroz Galvão, o diretor de negócios Erton Medeiros Fonseca e o diretor-presidente Jean Alberto Luscher Castro.
Ainda restam 20 denúncias pendentes para que todos os 39 denunciados se tornem réus na ação. Segundo a Justiça Federal, elas podem ser aceitas pelo juiz ainda nesta semana.
Veja os nomes denunciados pelo MPF na semana passada:
- Alberto Youssef, doleiro
- Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras
- Nestor Cerveró, ex-diretor da área Internacional da Petrobras)
- Fernando Soares, lobista
- Júlio Camargo, executivo da Toyo Setal
- José Humberto Cruvinel Resende
- Agenor Franklin Magalhães Medeiros, diretor-presidente da Área Internacional da Construtora OAS S.A
- Carlos Eduardo Strauch Alberto, diretor técnico da Engevix Engenharia S/A
- João Ricardo Auler, presidente do Conselho de Administração da Construções e Comércio Camargo Correa S.A
- Eduardo Hermelino Leite, diretor vice-presidente da Camargo Correa S.A.
- João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida
- Sérgio Cunha Mendes, diretor vice-presidente Executivo da Mendes Júnior Trading Engenharia S/A
- Carlos Alberto Pereira da Costa, advogado de Alberto Yousseff
- Enivaldo Quadrado, doleiro
- Rogério Cunha de Oliveira, diretor da Área de Óleo e Gás (ANOG) da Mendes Júnior Trading e Engenharia
- Angelo Alves Mendes, diretor vice-presidente da Mendes Júnior Trading e Engenharia S.A
- Alberto Elísio Vilaça Gomes
- Antonio Carlos Fioravante Brasil Pierucinni
- Mário Lúcio de Oliveira
- Ricardo Ribeiro Pessoa, responsável pela UTC Participações S.A.
- João de Teive e Argollo
- Sandra Raphael Guimarães
- Marcio Andrade Bonilho
- Jayme Alves de Oliveira Filho, agente da Polícia Federal
- Adarico Negromonte Filho, irmão do ex-ministro das Cidades e deputado federal Mário Negromonte (PP-BA)
- José Aldemário Pinheiro Filho, presidente da OAS
- Mateus Coutinho de Sá Oliveira, OAS
- José Ricardo Nogueira Breghirolli, funcionário da Construtora OAS
- Fernando Augusto Stremel Andrade, OAS
- João Alberto Lazarri
- Gerson de Mello Almada, vice-presidente da Engevix Engenharia S.A.
- Newton Prado Junior, diretor técnico da Engevix Engenharia S/A
- Luiz Roberto Pereira, ex-diretor da Engevix Engenharia S/A
- Erton Medeiros Fonseca, diretor-presidente da divisão de Engenharia Industrial da empresa Galvão Engenharia S.A.
- Jean Alberto Luscher Castro
- Dario de Queiroz Galvão Filho
- Eduardo de Queiroz Galvão
- Waldomiro de Oliveira


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quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

"Ainda não sei o tamanho da caixa de Pandora da Petrobras", diz Janot

Antonio Jiménez Barca e C. Jiménez
Em Brasília

  • Roberto Jayme/UOL
    "Pretendemos que assumam a culpa por corrupção ativa, fraude em licitação e por todos crimes que ainda não estão devidamente definidos", disse Janot sobre os executivos envolvidos no escândalo "Pretendemos que assumam a culpa por corrupção
     ativa, fraude em licitação e por todos crimes que
    ainda não estão devidamente definidos", disse Janot
     sobre os executivos envolvidos no escândalo
Procurador-geral brasileiro organiza a estratégia para punir os responsáveis pela trama de corrupção na empresa
Rodrigo Janot dorme tranquilamente todas as noites, apesar das revelações do sistema de corrupção endêmica na principal empresa do Brasil, a estatal de petróleo Petrobras. Como procurador-geral da República, Janot organiza a estratégia do Ministério Público diante da Operação Lava Jato para punir os responsáveis por uma trama que começou em 1987. Neste momento, estuda o depoimento do cambista Alberto Youssef para completar esse quebra-cabeça e compartilhar o trabalho com o Supremo Tribunal Federal.
Até agora as delações premiadas ajudaram a recuperar cerca de R$ 800 milhões, o dobro do que o Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça conseguiu recobrar em toda a sua existência. Mas ainda resta muito mais: como diz Janot, acabam de abrir a caixa de Pandora.
El País: O senhor disse que a Justiça brasileira deu um passo à frente com a prisão dos empresários. O que mudou?
Rodrigo Janot:
As instituições da Justiça brasileira estão mais maduras, se profissionalizaram para que sua ação melhore. É visível o que se conseguiu nos últimos anos, tanto na área penal como de improbidade.

El País: Dizem que os executivos das empresas podem alegar ter atuado como um cartel. Isso pode suavizar as condenações, uma vez que a pena para este crime é pequena?
Janot:
No que depender do Ministério Público Federal, não se fechará esse acordo. Pretendemos que assumam a culpa por corrupção ativa, fraude em licitação e por todos crimes que ainda não estão devidamente definidos.

El País: Depois de acusados, esses empresários terão que devolver o dinheiro roubado ou fraudado?
Janot:
É claro. Não só devolver, como também receberão multas elevadas, como já se fez com alguns. Não basta devolver, é preciso pagar de alguma forma pelo ato ilícito cometido. Já recuperamos cerca de R$ 800 milhões, o dobro do que conseguiu recobrar o Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça em toda a sua existência. E ainda faltam as grandes empresas. Só um gerente da Petrobras vai devolver US$ 100 milhões, um gerente! Ou devolvem de maneira espontânea ou a Justiça os obrigará.

El País: Uma peculiaridade do sistema legal brasileiro é a delação premiada. Algo que é eficaz, mas também uma espécie de extorsão: a pessoa fala e tem a pena reduzida. Qual é a sua opinião sobre esse sistema?
Janot:
Esse nome, delação premiada, banalizou o método. Quando se fala em confissão, imagina-se alguém falando mal, dizendo fofocas. Na realidade, trata-se de um acordo: o sujeito pratica algo ilícito, a defesa sabe qual é a pena que pode receber. Esse acordo reduz a pena ou muda o regime de cumprimento. Fazemos o acordo e explicamos: você cumprirá pena de prisão domiciliar, mas se romper o acordo vai para a prisão. E nesse acordo a pessoa assume a culpa e aponta as pessoas que participaram dos fatos. A delação premiada não é a prova, mas indica o caminho para que o Ministério Público chegue à prova.

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Saiba quem são os citados na Operação Lava Jato55 fotos

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PAULO ROBERTO COSTA, O DELATOR - Investigado pela Operação Lava Jato da Polícia Federal, que apura esquema bilionário de lavagem de dinheiro, Paulo Roberto Costa é ex-diretor de Abastecimento e Refino da Petrobras, cargo que ocupou entre 2004 e 2012. Foi preso em março deste ano por tentar ocultar provas que o incriminavam. Solto em maio, foi preso novamente em junho, e fez acordo de delação premiada com a PF em agosto, o que possibilitaria uma redução de sua pena em caso de condenação. Em depoimentos gravados feitos à polícia, ele cita, segundo a revista "Veja", ao menos 25 deputados federias, 6 senadores, 3 governadores, um ministro de Estado e pelo menos três partidos políticos (PT, PMDB e PP), que teriam recebido propina de 3% do valor dos contratos da estatal Leia mais Renato Costa/Frame/Folhapress
El País: Quando se começará a chegar aos políticos? Dizem que cerca de cem estão envolvidos. Tem sentido?
Janot:
Não. O que temos até agora é a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Os nomes ainda são segredo, devido às provas. Mantemos a investigação para que se possam buscar as provas sem que sejam destruídas. Quando a sua confissão chegar ao Supremo, começa o processo de confissão do cambista Alberto Youssef. Tenho que esperar seu testemunho completo para montar minha estratégia. Ele depunha diariamente, mas tivemos de diminuir o ritmo por causa de sua saúde. Mas já terminou.

El País: O escândalo do mensalão [caso de corrupção no qual se envolveu a cúpula do PT] demorou seis anos para dar resultados. E este?
Janot:
Tenho que ver o material. Ainda está incompleto. As diferenças entre os casos é que o mensalão era regido por uma lei pior e tivemos que fazer uma intensa busca de provas. Como agora há instrumentos mais modernos, é possível que as encontremos mais depressa.

El País: Então a caixa de Pandora ainda não está pronta.
Janot:
Ainda não sei seu tamanho...

El País: Em alguns momentos parecia que o sistema político ia acabar, mas se sabe que essa trama existe há 15 anos...
Janot:
Na realidade, esse sistema vem de 1987, passa por todos os governos. É um sistema endêmico. Não espero que o processo acabe com o sistema político, mas que mude o sistema. O que existe é um sistema corruptor. É ao contrário, nós tiramos essas pessoas e outras ocuparão seu lugar.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Cartel de SP: PSDB imita PT e se finge de cego
 
Josias de Souza



Num instante em que o petrolão derrete feito bala de açúcar no bico de oradores tucanos, a Polícia Federal fechou a conta do inquérito do cartel do metrô e dos trens de São Paulo: 33 indiciados. Entre eles agentes públicos, executivos de grandes empresas, lobistas e assemelhados.
Pesam-lhes sobre os ombros acusações variadas: corrupção ativa e passiva, formação de cartel, fraude em licitações, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Segundo a PF, os crimes foram praticados durante dez anos, de 1998 a 2008. Desviaram-se R$ 834 milhões. E ninguém notou!
Repetindo: a roubalheira atravessou três governos tucanos —Mário Covas, Geraldo Alckmin e José Serra— e ninguém percebeu! As fraudes só vieram à luz por conta de um fio de meada puxado numa investigação na Suíça e um acordo de colaboração firmado pela Siemens no Brasil.
Em matéria de corrupção, os tucanos sofrem da mesma moléstia que acomete os petistas: cegueira. Assim como Lula não sabia que o mensalão fluía sob suas barbas e Dilma não sabia que PT e aliados prospectavam propinas na Petrobras, Serra e Alckmin jamais souberam das fraudes que descarrilavam as licitações metroferroviárias.
Fica-se com a impressão de que o principal problema do país não é ético, mas oftalmológico. A falta de bons oculistas atordoa os brasileiros. Não bastasse ter de decidir se prefere o papel de cínico ou o de bobo, o contribuinte é assaltado (ops!) por uma segunda dúvida: o que é pior, os corruptos capazes de tudo ou os governantes incapazes de todo?
De concreto, por ora, apenas uma evidência: em terra de cego, quem tem um olho não diz que os reis estão nus.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Homem de US$ 100 milhões da Petrobras encabeça subornos

Sergio Moraes/Reuters
Sede da Petrobras no Rio de Janeiro
Sede da Petrobras: depoimento de Barusco ameaça implicar mais pessoas no escândalo
 
Sabrina Valle, da Bloomberg

Rio de Janeiro - O maior escândalo de lavagem de dinheiro e corrupção do Brasil acaba de ser ampliado com o compromisso de um alto executivo de devolver US$ 100 milhões e testemunhar contra os colegas, como seu ex-chefe na Petrobras.
Pedro Barusco, um executivo do terceiro escalão que reportou ao chefe da divisão de engenharia até 2010, entrou em contato com o Ministério Público Federal e confessou ter aceitado subornos de construtoras, segundo o texto de uma decisão de 18 de novembro de um juiz para ordenar a prisão preventiva do ex-chefe de Barusco.
O executivo também recebeu dinheiro da SBM Offshore NV, a fornecedora de plataformas de petróleo holandesa, disse uma fonte com conhecimento direto da investigação, que pediu anonimato porque a informação é confidencial.
O depoimento de Barusco ameaça implicar mais pessoas no escândalo à medida que os procuradores investigarem a origem de sua fortuna, acusada de ser ilícita.
A direção da Petrobras vem lidando com a crise em um momento em que sofre para cumprir as metas de produção e no qual o setor está se ajustando aos preços mais baixos do petróleo desde 2009. Isso tem colocado a presidente Dilma Rousseff, que foi presidente do Conselho de Administração da Petrobras de 2003 a 2010, na defensiva após ela conseguir se reeleger por uma margem apertada, em outubro.
Renato Duque, o ex-diretor da Petrobras para quem Barusco reportava, nega qualquer participação no esquema de superfaturamento e suborno, disseram seus advogados em um comunicado enviado por e-mail. A advogada de Barusco, Beatriz Catta Preta, preferiu não comentar quando contatada por telefone, em São Paulo. A Petrobras não comentou, quando contatada por telefone e e-mail. Dilma disse, no dia 8 de setembro, que não sabia da corrupção na Petrobras quando era presidente do conselho.
Teori Zavascki, um juiz do Supremo Tribunal Federal, mandou soltar Duque dizendo que ele pode esperar pelo julgamento em liberdade. O juiz federal Sérgio Moro, que preside o caso de lavagem de dinheiro e corrupção conhecido como Lava Jato em Curitiba, Brasil, disse na decisão de 18 de novembro que estendeu a detenção de Duque porque ele possui uma grande quantidade de dinheiro ilícito em contas bancárias e que claramente não estava disposto a obedecer à lei.
Ameaça a projetos
Barusco ofereceu devolver ao país a maior quantia da história vinda de uma única pessoa, segundo o escritório da procuradoria que trabalha no caso. É três vezes mais do que o montante acordado pelo ex-diretor de refino Paulo Roberto Costa, uma das principais figuras, até o momento, na investigação de lavagem de dinheiro e corrupção de R$ 10 bilhões (US$ 3,9 bilhões), chamada Lava Jato.
A investigação também ameaça paralisar projetos de infraestrutura nos quais as empreiteiras da Petrobras estão envolvidas, como represas e rodovias, e neutralizar os esforços de Dilma para reanimar a maior economia da América Latina. A economia do Rio de Janeiro será prejudicada porque uma apuração adicional aos contratos desacelera os investimentos, disse Julio Bueno, secretário estadual de Desenvolvimento Econômico do Rio de Janeiro. A Fitch Ratings Ltd. atribuiu observação negativa a todas as empresas da indústria pesada do país até que haja clareza a respeito dos resultados da investigação.
“O que acontecia na Petrobras acontece no Brasil inteiro: nas rodovias, nas ferrovias, nos portos, nos aeroportos, nas hidrelétricas”, disse Costa a parlamentares, em uma audiência ontem em Brasília. “Às vezes você entra em um processo e não tem como sair”.
Auditoria sobre navio-sonda
O advogado de Costa, João Mestieri, não respondeu a um e-mail em busca de comentário. Costa disse que se arrepende de ter sido promovido por meio de conexões políticas e durante a audiência no Congresso preferiu não comentar a respeito de subornos específicos.
Barusco deixou a petroleira estatal em 2010 e se tornou diretor da Sete Brasil, que ganhou mais de US$ 25 bilhões em contratos para fornecer navios-sonda à Petrobras, a maior produtora em águas com mais de 300 metros de profundidade.
Ele deixou a Sete Brasil em 2013 por motivos de saúde, disse a empresa em uma resposta a perguntas, por e-mail. A Sete disse que está auditando contratos de navios-sonda para identificar qualquer possível irregularidade.
Barusco, 58, tem uma casa em um dos bairros mais exclusivos do Rio de Janeiro, com vista para a praia de Joatinga, informou o jornal Folha de S. Paulo no dia 22 de novembro.
Ele entrou em contato com as autoridades há cerca de um mês depois que seu nome começou a aparecer nas investigações e concordou em colaborar, disse a fonte com conhecimento do caso. Duque, seu ex-chefe na divisão de engenharia, foi preso no mês passado juntamente com executivos de algumas das maiores empresas construtoras do Brasil com as quais os ex-executivos da Petrobras negociaram acordos multibilionários. As mesmas construtoras foram grandes contribuintes da campanha de Dilma.
Nova janela
Dilma disse antes e depois da eleição que seu governo fez mais do que os anteriores para combater a corrupção. Ela afirmou no dia 16 de novembro que a maioria dos funcionários da Petrobras é honesta e que o episódio “acabará com a impunidade” e mudará o Brasil para melhor. Sua assessoria de imprensa preferiu não realizar comentários adicionais, em uma resposta enviada por e-mail.
Barusco oferece aos investigadores uma nova janela dentro da rede de empresas industriais que, segundo depoimentos de pelo menos outros quatro suspeitos, incluídos em documentos judiciais, operavam um cartel para cobrar tarifas infladas dos maiores contratos do Brasil, não envolvendo apenas a Petrobras.
Os fornecedores, em seguida, supostamente subornavam funcionários e uma parte era distribuída aos partidos da base aliada de Dilma que tinham o poder de nomear diretores da Petrobras, segundo o depoimento de Costa, gravado em vídeo. Os partidos da base aliada negaram as acusações de Costa e não responderam a e-mails em busca de comentários adicionais
US$ 22 mi
Costa disse que os políticos tinham influência direta na nomeação da equipe de gestão. José Dirceu, chefe de gabinete do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez lobby para tornar Duque diretor, disse Costa, em depoimento, no dia 8 de outubro. Os advogados de Duque negaram as acusações e disseram que o executivo se reuniu com Dirceu em 2003, depois de ele ter sido promovido, segundo comunicado enviado por e-mail à Bloomberg.
O escândalo também se espalhou para os fornecedores internacionais da Petrobras. Barusco disse que US$ 22 milhões do dinheiro que ele planeja devolver vieram da locatária de plataformas SBM Offshore, segundo a fonte ligada à investigação que pediu anonimato porque a informação é confidencial. A SBM preferiu não comentar, em resposta enviada por e-mail. O jornal O Globo informou a respeito do suposto suborno da SBM no dia 22 de novembro, citando uma fonte com conhecimento da investigação.
"O jogo"
A fortuna de Barusco, que ele construiu ao longo de mais de duas décadas na Petrobras, é mantida em países como Suíça e Uruguai, segundo documentos do processo.
A SBM disse, em um comunicado de 12 de novembro, que concordou em pagar ao escritório da promotoria dos Países Baixos US$ 240 milhões para resolver um caso de pagamentos indevidos na África e no Brasil.
Dois executivos da empreiteira Toyo Setal Empreendimentos Ltda., que estão colaborando com as autoridades com esperanças de terem a pena reduzida, detalharam os subornos que pagaram a Barusco e a Duque, segundo documentos do processo.
Nos documentos, Júlio Camargo e Augusto Mendonça, executivos da Toyo, mencionam pelo menos nove grandes contratos da Petrobras, alguns superando US$ 10 bilhões. Camargo disse que um dos subornos que ele pagou foi de US$ 12 milhões a Barusco e a Duque para construir um grande componente, conhecido como unidade de coque, na refinaria Repar, no sul do Brasil.
“Era parte do jogo” e todos sabiam, disse Camargo, segundo documentos do processo.
"Extremamente cauteloso"
Camargo disse que nunca entregou dinheiro diretamente a Duque porque o ex-diretor era “extremamente cauteloso”. Ele teria depositado dinheiro em contas no exterior e um doleiro clandestino teria entregue dinheiro a Duque e a Barusco por meio de intermediários, segundo documentos do processo.
Toyo Setal não respondeu a um e-mail em busca de comentários. As tentativas de contatar Camargo e Mendonça por telefone não foram bem-sucedidas.
Barusco, Camargo e Mendonça ressaltam os esforços dos investigadores para conseguir colaboração de suspeitos em troca da possibilidade de obterem clemência. Os informantes precisam fundamentar suas declarações com documentos e contas bancárias e estão sujeitos a processos judiciais se a informação for imprecisa, disse o juiz Sérgio Moro, que preside o caso, em documentos do processo.
“Eles não apenas relatam os fatos, mas também identificam contas bancárias, datas de transações, locais de encontros”, escreveram três procuradores em um documento do processo com data de 7 de novembro, em referência a executivos da Toyo Setal. “Eles provam todos os fatos em seus depoimentos”.
"Clube VIP"
Mendonça se referiu ao grupo de construtoras como “o clube VIP” que pagava subornos a intermediários como Alberto Youssef, que confessou o crime de lavagem de dinheiro e que agiu como uma espécie de banqueiro conectando empresas e políticos. Youssef disse que as empreiteiras combinavam a escolha dos vencedores antes de leilões públicos.
O grupo teria entregue uma lista de participantes dos contratos da Petrobras, que incluiria o vencedor, com antecipação a Costa, disse Youssef. Costa confirmou o esquema em depoimentos gravados em vídeo que fazem parte do arquivo do processo e que também estão disponíveis no YouTube.
A “participação ativa” de Barusco e Duque em atividades criminais é “inquestionável”, disseram no dia 17 de novembro três promotores em uma recomendação para uma ação criminal.
A investigação já conduziu à prisão de pelo menos 27 pessoas para interrogatório sobre negócios relacionados à Petrobras, incluindo altos executivos de empresas construtoras, em um país que não está acostumado a ver homens de negócios ricos serem colocados em prisão preventiva.
“Esse é o maior escândalo de corrupção do Brasil e tocou pela primeira vez pessoas que até agora eram consideradas acima de qualquer suspeita”, disse o advogado de Youssef, Antonio Figueiredo Basto, em entrevista, em Curitiba.

Tópicos: Corrupção, Escândalos, Fraudes, Crime no Brasil , Lavagem de dinheiro, Petrobras, Empresas, Capitalização da Petrobras, Estatais brasileiras, Petróleo, gás e combustíveis, Empresas brasileiras, Empresas estatais, Empresas abertas, Indústria do petróleo

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014