terça-feira, 2 de outubro de 2007

A chamada “operação abafa” foi procedimento recorrente no governo FHC


Título: A CORRUPÇÃO SISTÊMICA
Autor: Léo Lince
Publicado:
Data: 19/05/2005



A chamada “operação abafa” foi procedimento recorrente no governo FHC. Bastava estourar um escândalo de corrupção e, pronto, lá estava o governo empenhado em barrar a constituição da CPI para investigá-lo. Uma marca registrada, a lista não cabe neste artigo. A tal ponto que o senador Pedro Simon, amigo pessoal do presidente e de sua base de apoio na época, falando com seu gestual peculiar, formulou a seguinte máxima: “…eu não sei se o presidente Fernando Henrique rouba, nem se ele deixa roubar, mas de uma coisa eu tenho absoluta certeza: ele não deixa investigar de jeito nenhum”.

Alguém se lembra, por acaso, da famosa briga ACM versus Barbalho? Na época, eram os líderes dos dois maiores partidos aliados do governo e se chamaram de “ladrão” e “mais ladrão” na tribuna do Senado, e o primeiro convocou a imprensa estrangeira para declarar com todas as letras: “o presidente FHC, para manter a aliança que o sustenta, é tolerante com a corrupção”. Talvez este seja, segundo a sociologia rasteira do ex-presidente, o preço a ser pago para “hegemonizar” o atraso. Um preço muito alto, pois a consciência digna da cidadania costuma cobrar com juros tal procedimento.

A natureza do problema atual é a mesma dos casos anteriores. São camadas que vão se superpondo ao núcleo duro que, enquanto não for revelado, reporá as peças queimadas com a mesma facilidade com que se faz compra no mercado. Os “valores” que articulam o capitalismo financeiro que nos domina ao sistema político que lhe fornece base de sustentação estão no caroço do novelo. O observador atento já está careca de saber. Em todos os escândalos, nos anteriores, nos que estão em curso e nos que virão, vige a mesma marca. Basta puxar o fio da meada que se chegará, inapelavelmente, ao sistema financeiro e aos fundos de financiamento de campanha. Em cima, a fortaleza inexpugnável da casta financeira; em baixo, o intestino grosso da pequena política.

A corrupção não é uma seqüência de fatos isolados que se repetem. Ela é uma cultura que azeita o funcionamento da máquina de poder que tritura a nossa frágil democracia. O estigma de Simon, a julgar pelos acontecimentos da semana no Congresso, paira agora sobre a cabeça de Lula. Uma perigosa ameaça que, se não for conjurada, pode arrastar o governo para mais uma tenebrosa área de sombras. Fará bem o governo se, se puder, partir para a luta em campo aberto, fugindo do facilitário que pode lhe enredar nas malhas da cumplicidade.

Reunir o que lhe resta de coragem e legitimidade e partir para a ofensiva em todas as frentes. Acionar os instrumentos de governo, sempre aplaudidos quando agem contra os corruptos, buscar articulação com a saudável vitalidade do Ministério Público e das entidades da sociedade civil. Aceitar o desafio da CPI no Congresso Nacional, que já está severinamente paralisado. Investir pesado na reforma política, com realce na aprovação do financiamento público exclusivo para as campanhas eleitorais. Como se sabe, o formato atual é um fator incontrolável de corrupção e de “gangsterização” da política. Enfim, buscar amparo na mobilização cidadã para romper o círculo vicioso da corrupção sistêmica.

Fonte: Site do Deputado Chico Alencar (PSOL)

http://www.chicoalencar.com.br/chico2004/artigos_do.php?codigo=227

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