segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Farra com dinheiro público no TSE

Valdeci Rodrigues | Valdeci | 14/01/2013 20h15
Onde quer que o dinheiro "sem dono" apareça, sempre estará presente a turma que se locupleta com recursos públicos. Usei o verbo "locupletar" (fartar) de propósito, já que quando se trata do que é arrancado do contribuinte não se rouba, desvia-se.
E, como é "desvio", ninguém costuma ser punido por isso. Mais uma vez, a história só vem à tona por causa do trabalho da imprensa, neste caso específico uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.
A matéria dessa segunda-feira informa que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) gastou R$ 9,5 milhões (!) no pagamento de horas extras entre os meses de setembro e novembro de 2012.
Servidores chegaram a ganhar mais do que ministro do próprio TSE e do Supremo Tribunal Federal (STF) por conta de supostas maracutaias que agora estariam sendo investigadas --- depois da reportagem do jornal, claro.
Valores superaram, em "horas extras", o teto constitucional no serviço público, que são os vencimentos dos ministros do STF.
O site do Estadão informou que o diretor-geral do TSE, Alcides Diniz, foi exonerado pela presidente do tribunal, ministra Cármen Lúcia. Igualmente "a secretária de Controle Interno e Auditoria do TSE, Mary Ellen Gleason Gomide Madruga, também foi exonerada. Na lista de beneficiários de horas extras, ela aparece como tendo recebido em novembro do ano passado mais de R$ 26 mil. De acordo com integrantes do tribunal, as duas exonerações estão diretamente ligadas ao pagamento de horas extras durante o processo eleitoral", informa o site do Estadão nessa quarta.
Conforme dados da reportagem, em novembro, 161 servidores do TSE receberam entre R$ 26.778,81 e R$ 64.036,74. No total, 567 servidores teriam trabalhado fora do horário normal de expediente.
Novidade? Não. Sem meios de punição a abusos na administração pública, o dinheiro público é roubado de forma ininterrupta --- tenha o nome que tiver. No TSE, segundo o Estadão, servidores passavam em dias de final de semana de manhã e final da tarde para registrar o "trabalho" extraordinário, muitos de bermudas.
Terá alguma consequência? Não. Temos exemplos de furto do erário em todos os lugares da administração pública.
Mas para nós, que acompanhamos o descaso oceânico e criminoso na máquina pública, o dever de criticar é reavivado todo santo dia. Se vacilarmos um segundo, cairemos na vala comum de frases como: "É, esse país não tem jeito mesmo não".
Mas devemos também realçar que o mau exemplo do cometimento de crimes contra a administração pública vem de cima --- sai do Palácio do Planalto, passa pelo Congresso Nacional e chega ao Poder Judiciário.
E ainda faz o caminho inverso, do mais minguado dos municípios, passando pelos estados e Distrito Federal, até o centro da administração pública em Brasília.
Repito sempre: os meios de comunicação poderiam, pelo menos, usar o termo "roubo" para a sangria dos recursos públicos. Ao invés de contribuir para o mascaramento de um dos piores tipos de crimes que há --- o assalto ao dinheiro arrecadado dos mais de 190 milhões de brasileiros.