terça-feira, 5 de julho de 2011


Dilma 'confia' em ministro dos Transportes; CGU prepara devassa

Dilma Rousseff diz que governo tem "confiança" no ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, cuja pasta é alvo de denúncias de desvio de verbas. Postura sugere que, por ora, não há intenção de demitir auxiliar. Nascimento será coordenador maior de sindicância que tem 30 dias para investigar quatro servidores graduados. Controladoria Geral da União, que participará da sindicância para impedir corporativismo, prepara devassa em contratos. Em dois anos, CGU já abriu por contra própria 18 processos contra 30 servidores dos Transportes.

BRASÍLIA – A presidenta Dilma Rousseff reuniu-se nesta segunda-feira (05/07) com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, para discutir denúncia de que haveria esquema de desvio de verba pública de obras no setor para o Partido da República (PR), que controla a pasta desde 2003.

Ao final da reunião, por ordem de Dilma, sua Secretaria de Imprensa informou que o ministro tinha a “confiança” do governo e que Nascimento será o responsável por chefiar o processo de investigação aberta contra quatro servidores graduados já afastados dos cargos.

A posição adotada por Dilma sugere que, por ora, não se deve apostar na demissão do ministro. Ela manifestou-se apenas dois dias depois da publicação de reportagem sobre um suposto “mensalão do PR” nos Transportes. E o fez depositando “confiança” em Nascimento.

Na denúncia de enriquecimento ilícito contra o ex-ministro Antonio Palocci, a presidenta demorou quase duas semanas para comentar o assunto publicamente. E, quando o fez, foi cautelosa. Disse que Palocci daria “todas as explicações necessárias”. Mas sem afirmar que “confiava” nele.

O texto da reportagem da revista Veja sugere, aliás, ter havido colaboração de pessoas próximas de Dilma na sustentação da denúncia. Há reprodução de várias frases supostamente usadas pela presidenta em uma reunião em que, antes mesmo de a reportagem sair, tinha discutido superfaturamento nos Transportes com Nascimento e outros ministros. Não só frases foram reproduzidas, como nem Dilma nem sua assessoria desmentiram seu conteúdo.

Em decorrência da acusação, foram afastados o chefe de gabinete do ministro, Mauro Barbosa da Silva; um assessor especial, Luís Tito Bonvini; o diretor-geral do Departamento Nacional de Infra-Estruruta de Transportes (DNIT), Luiz Antonio Pagot; e o presidente da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, José Francisco das Neves.

A troca de ocupantes dos quatro cargos pavimenta mudanças gerenciais no setor de Transportes, enquanto a manutenção - ao menos por ora - do ministro preserva as relações da presidente com a bancada do PR no Congresso.

Os quatro servidores afastados serão investigados por uma sindicância criada nesta segunda-feira (04/07) por Alfredo Nascimento. O grupo terá 30 dias para concluir o trabalho. A Controladoria Geral da União (CGU) vai acompanhar as apurações e fará auditoria em contratos, o que dificulta eventual tentativa de Nascimento e do PR de boicotar a sindicância escondendo fatos desagradáveis.

Em nota oficial, a CGU diz que, por determinação de Dilma, fará uma “análise aprofundada e específica em todas as licitações, contratos e execução de obras que deram origem às denúncias”.

A investigação será ampla. Vai pegar inclusive unidades regionais do DNIT e da Valec. Nos últimos dois anos, diz a nota, a CGU abriu 18 processos para averiguar irregularidades no setor de Transportes, nos quais 30 servidores estão implicados. A CGU acompanha ainda outros 150 processos do gênero instaurados por conta própria pelo ministério dos Transportes.

O ministério dos Transportes diz que Nascimento está pronto para ir ao Congresso “prestar os esclarecimentos desejáveis ao pleno afastamento de quaisquer suspeitas que possam pairar sobre a atuação da Pasta”. 

É outra mudança de comportamento do governo em relação ao caso Palocci. O ex-ministro e o governo fizeram de tudo para evitar que o então acusado encarasse parlamentares.

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