quinta-feira, 26 de março de 2009
Fiesp intermediou repasses de empreteira a partidos João Wainer/Folha
Relatório da Polícia Federal sustenta que a empreiteira Camargo Corrê valeu-se da intermediação da Fiesp para borrifar verbas nas arcas de sete partidos.
O documento anota sete siglas. Três da oposição: PSDB, DEM e PPS. E quatro sócios do consórcio governista que gravita em torno de Lula: PMDB, PSB, PDT e PP.
Há também referências no documento da PF a uma sigla que não possui registros nos arquivos da Justiça Eleitoral: PS.
Repasses de empresas a partidos são autorizadas pela legislação eleitoral. O problema é que a PF suspeita que uma parte do numerário escoou pelo caixa dois.
Num trecho de seu relatório, a polícia diz ter colecionado “indícios” de que parte do dinheiro provido aos partidos pela empreiteira é “doação não declarada”.
No despacho em que autorizou as prisões da operação Castelo de Areia, deflagrada nesta quarta (24), o juiz Fausto de Sanctis, escreveu:
“Sob tal enfoque, há indícios de que supostos crimes financeiros, em tese, perpetrados por alguns funcionários da Camargo Corrêa...”
“...Juntamente com Kurt Pickel [doleiro residente em São Paulo] poderiam estar sendo motivados para fraudar de algum modo o sistema eleitoral”.
O pedaço eleitoral da investigação veio à tona em diálogos vadios captados por escutas telefônicas feitas pela PF.
Os grampos pescaram uma intensa troca de telefonemas nos dias 15 e 16 de setembro do ano passado, entre o primeiro e o segundo turno das eleições municipais.
Captaram-se, por exemplo, conversas de três diretores da Camargo Corrêa –Dárcio Brunato, Pietro Bianchi e Fernando Dias Gomes –com a Fiesp.
Emerge dos grampos a voz de um representante da Fiesp em Brasília: Luiz Fernando Maia Bezerra.
Os diretores da empreiteira trataram com a Fiesp, informa a PF, “da distribuição de valores a políticos e partidos políticos”.
Escutou-se também uma conversa do diretor Pietro Bianchi com Fernando Botelho, vice-presidente da amargo Corrêa.
Deu-se às 12h48m19s do dia 15 de setembro de 2008. Fernando diz a Pietro que recebera um telefonema de Paulo Skaf, presidente da Fiesp. Reclamava da demora na liberação dos repasses prometidos.
No telefonema ao diretor Pietro, o vice Fernando Botelho cobrou explicações. Parecia “contrariado”, segundo o relato da PF.
Lero vai, lero vem, fez-se menção a uma “divisão de valores”. Citaram-se o PSDB e o PS, a legenda sem registro no TSE.
No mesmo dia 15 de setembro, às 12h54m17s, Pietro tocou o telefone para o colega de diretoria Dárcio Brunato. Pediu-lhe informações acerca das doações.
Dárcio diz a Pietro que a “divisão dos valores” já havia sido feita. Mencionam duas cifras e um par de nomes: "R$ 300 mil para Agripino e partido" e "R$ 200 mil para o Flexa Ribeiro". Citam cinco partidos: PPS, PSB, PDT, DEM e PP.
Na manhã do dia seguinte, 16 de setembro de 2008, às 9h35m33s, o diretor Dárcio conversou pelo telefone com João Auler.
Auler é identificado no relatório da PF como vice-presidente de negócios da Camargo Corrêa. Seria o contato da empreiteira em Brasília.
Informou ao colega que estava “tudo certo” em relação à divisão e ao repasse das verbas aos partidos políticos.
Noutro diálogo captado pelos grampos e anexado à folha 1.244 do processo que corre na vara judicial comandada pelo juiz Fausto de Sanctis faz-se referência ao PMDB.
A conversa gira em torno da “destinação” de “R$ 300 mil” ao PMDB do Pará, presidido pelo deputado federal Jader Barbalho.
No despacho que redigiu na última segunda-feira (23), o juiz de Sanctis escreveu, em linguagem cuidadosa, o seguinte:
“Os diálogos monitorados revelam, em princípio, tratativas e possíveis entregas de numerários supostamente a políticos e a partidos políticos...”
Repasses “oriundos, em tese, da empresa Camargo Corrêa, com a suposta intermediação da Fiesp, direta ou indiretamente”.
Em nota, a Fiesp diz que não teme "qualquer tipo de investigação". O PPS negou que tenha recebido recursos ilegais. O PSDB informou que só recebeu da empreiteira verbas legais.
Presidente do diretório do DEM no Rio Grande do Norte, o senador José Agripino Maia confirmou o repasse à legenda de R$ 300 mil. Dentro da lei, disse. Exibiu cópia do recibo.
O deputado Jader Barbalho, presidente do diretório paraense do PMDB, também confirmou o recebimento de R$ 300 mil. Coisa legal, afirmou. Não veio à luz, por ora, o comprovante.
As outras legendas não haviam se manifestado até a noite passada.
Escrito por Josias de Souza às 03h20
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