domingo, 25 de outubro de 2015

Tentativa de manter dinheiro na Suíça complica vida de Cunha

Por Redação – de Brasília

A tentativa de impedir que os recursos bloqueados nas contas secretas do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na Suíça, fossem repatriados amplia a chance de o Ministério Público Federal (MPF) pedir a prisão, imediata, da mulher, a jornalista Claudia Cruz, e de uma das filhas do parlamentar. O Judiciário suíço informou, na véspera, aos investigadores da Operação Lava Jato, da Polícia Federal (PF), as ações de Cunha na tentativa de deter a transferência ao Brasil de cerca de R$ 10 milhões, atualmente depositados em um banco naquele país.
Eduardo Cunha
Eduardo Cunha
Advogados de Cunha, segundo os promotores suíços, entraram com pedido para impugnar a decisão do MP de enviar para a Procuradoria Geral da República (PGR), no Brasil, dados sobre as quatro contas no banco Julius Bär, em nome de Cunha e seus familiares. Algumas das contas estão em nomes de empresas offshores, criadas em paraísos fiscais. As autoridades da Suíça chegaram a bloquear, em abril deste ano, 2,469 milhões de francos suíços (R$ 9,6 milhões) de Cunha e de sua mulher, sendo 2,3 milhões de francos suíços do deputado (R$ 9 milhões).
Novo inquérito
Na semana passada, o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki, encarregado no STF das ações decorrentes da operação Lava Jato, autorizou a abertura de novo inquérito contra Eduardo Cunha. A decisão foi tomada após o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresentar uma segunda denúncia no STF contra o parlamentar devido à existência de contas em nome de Cunha e de familiares na Suíça.
Janot denunciou Cunha ao Supremo inicialmente em agosto, acusando-o de receber pelo menos US$ 5 milhões em propinas do esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Lava Jato. Desde então, surgiram outras informações contra o parlamentar.
O Ministério Público da Suíça enviou ao Brasil uma investigação por corrupção e lavagem de dinheiro contra Cunha, com base nas contas bancárias do parlamentar e familiares naquele país.
“A PGR sustenta que há indícios de corrupção e lavagem de dinheiro por parte de Eduardo Cunha e Cláudia Cruz (mulher do deputado)”, disse em comunicado a Procuradoria, que também pediu o bloqueio e o sequestro dos valores depositados nas contas suíças.
“O processo foi transferido para a Procuradoria-Geral da República do Brasil considerando que o deputado é brasileiro, está no país e não poderia ser extraditado para a Suíça. Além disso, concluiu-se que a maioria das infrações foi praticada no Brasil e que a persecução penal será mais eficiente no território nacional”, acrescentou o MPF.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Doleiro reafirma denúncias contra Eduardo Cunha

Por Redação – de Brasília e Curitiba: 

Principal esteio das ações penais movidas com base nas investigações da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef reafirmou, neste sábado, em depoimento aos promotores do Ministério Público Federal (MPF), que membros da CPI da Petrobras na Câmara convocaram suas filhas para depor, na tentativa de inibi-lo a manter as acusações contra o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), entre outros parlamentares. Em seu depoimento, o doleiro relata “pressão” por meio de sua família contra o depoimento prestado voluntariamente aos investigadores, há cerca de um mês. Youssef afirmou que a CPI aprovou a convocação de suas três filhas e de sua ex-mulher para depor, além da quebra de sigilos fiscal e bancário delas, cerca de um mês depois de ele ter afirmado ao Ministério Público que Cunha era o destinatário final de propinas pagas por contrato firmado entre a Samsung e a Petrobrás.
Empresa ligada ao doleiro Yousseff teria transferido dinheiro para compra do jatinho que caiu, matando Eduardo Campos
Empresa ligada ao doleiro Yousseff teria transferido dinheiro para contas do presidente da Câmara
Youssef teria relatado aos investigadores que a intenção da CPI era inibi-lo a “revelar fatos incriminadores de determinados agentes políticos, em especial Eduardo Cunha”. O doleiro ainda acrescentou que a retaliação era “incômoda”, por ele estar preso e não poder ajudar sua família, e que “nenhuma pressão” o faria recuar das acusações contra o parlamentar. Eduardo Cunha foi denunciado na quinta-feira pela Procuradoria-Geral da República (PGR) pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. No pedido de condenação encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria afirma que Cunha recebeu pelo menos US$ 5 milhões em propina de um contrato firmado entre a Samsung Heavy Industries Co. e a Petrobras para aluguel de navios-sonda.
CPI suspeita
Em denúncia do Ministério Público do Estado de Pernambuco (MPE-PE), a CPI da Petrobras passou à condição de suspeita na apuração dos crimes cometidos contra a estatal do petróleo brasileiro. Presidente da Comissão, na Câmara, o deputado Hugo Motta (PMDB-PB) teria pagado R$ 180 mil de sua verba parlamentar em aluguéis de veículos da KMC Locadora, empresa que é considerada de fachada pelo órgão. O MPE fundamenta sua denúncia pelo fato de a não existir fisicamente e ter apenas um carro registrado em seu nome.
Hugo Motta teria contratado a empresa entre fevereiro e dezembro de 2011 e, depois, entre julho de 2012 e março de 2013, com pagamentos mensais entre R$ 5 e R$ 10 mil de sua cota para atividade parlamentar, verba destinada pela Câmara para os deputados usarem em atividades de suporte ao exercício do mandato.
Os pagamentos do peemedebista à empresa chamaram atenção do Ministério Público de Pernambuco, que citou o fato em uma ação de improbidade administrativa ajuizada em junho contra a gestão do município de Santa Cruz do Capibaribe (PE) pela contratação da KMC sem licitação. A empresa subcontratou veículos de outros proprietários para prestar o serviço, já que não os possuía, de acordo com a ação, conforme reportagem do jornal O Tempo, de Minas Gerais. Segundo as investigações, a sede da KMC não existe, não há registro de funcionários da empresa e a frota se resume a um veículo Toyota Corolla, recusado em um contrato com a prefeitura de Santa Cruz do Capibaribe (PE).
O Ministério Público afirma que a empresa é administrada pelos donos de uma outra locadora e manobrada só para obter contratos com a administração pública. Em depoimento, a proprietária da KMC, Rafaela Cavalcanti, disse nem saber quantos veículos a empresa possuía. Em seu segundo mandato consecutivo, Hugo Motta era pouco conhecido até ser designado para assumir a CPI da Petrobras. Ele seria aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também é investigado na Operação Lava Jato. A assessoria do deputado afirma que o caso já havia sido investigado pelo Ministério Público no Distrito Federal e arquivado, e que ele comprovou que os serviços foram prestados.
Armação da direita
Aumentaram, nas últimas horas, as especulações sobre o vice-presidente Michel Temer, que estaria deixando a articulação política do governo Dilma Rousseff para se preservar como eventual pólo de poder em caso de impeachment. O nome de Temer foi citado, pela primeira vez, na Operação Lava Jato. A citação veio a público neste sábado, nos depoimentos do lobista Júlio Camargo, que representa os interesses do grupo Toyo Setal e foi um dos principais delatores do esquema.
“Havia comentários de que Fernando Soares era representante do PMDB, principalmente de Renan, Eduardo Cunha e Michel Temer. E que tinha contato com essas pessoas de irmandade”, disse ele, num depoimento que foi usado na acusação da procuradoria-geral da República contra o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Temer se defendeu, em nota divulgada durante esta tarde: “Michel Temer não conhece Fernando Soares, nunca teve ou tem com ele qualquer relação ou contato de ‘irmandade’; também não conhece Júlio Camargo”, diz a nota. “O vice-presidente incentiva apurações sérias, profundas e responsáveis sobre os fatos. Apenas se insurge contra informações falsas e inverídicas”, afirma o comunicado.
Líderes dos principais partidos de oposição, no entanto, aproveitaram o movimento para sair em defesa do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Eles contariam com o apoio de Cunha para uma possível sequência ao golpe em curso contra a presidente Dilma Rousseff na Câmara. O objetivo do acordo seria aproveitar o momento ainda mais tenso na relação entre o Planalto e Cunha, denunciado pela Procuradora-Geral da República por suposto envolvimento na Lava Jato. Ele acusa o governo de fazer um acordo para atingi-lo, para avançar em um pedido de impeachment.
Desde que Cunha foi denunciado, na última quinta-feira, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), não se pronunciou. O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), pediu cautela e lembrou que Cunha é inocente até que se prove o contrário. PSDB, DEM, PPS e SD devem se reunir na próxima terça-feira para unificar o discurso em torno da defesa do afastamento da presidente, de acordo com reportagem do diário conservador paulistano Folha de S. Paulo.

sábado, 6 de junho de 2015

Lava Jato: empreiteiras querem pagar por perdão do governo

Portal Terra
As empreiteiras envolvidas na operação Lava Jato fizeram uma proposta para o governo federal em que pedem o pagamento integral de indenizações em troca de perdão pelo prejuízo causado no caso de corrupção envolvendo a Petrobras. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
As empresas querem ainda que o acordo de ressarcimento dos valores desviados passe da Controladoria Geral da União (CGU) para a Advocacia Geral da União (AGU). Hoje, o maior receio delas é que a Justiça as condene a não possam mais firmar contratos com o poder público, levando muitas delas à falência.
Uma outra punição às empresas proposta nesta nova fórmula seria que parte do ressarcimento ocorresse em forma de ações que dão poder decisório no comando das empresas. Os papéis seriam posteriormente leiloados no mercado.
A proposta enfrenta dificuldades para ser aceita tanto pelo governo como pelo Ministério Público Federal (MPF). Ministros avaliam que aceitar as condições poderia passar a ideia de que o governo está salvando as empresas que cometeram crimes. O MPF, que conduz processos de idoneidade paralelos, já se manifestou a favor de um acordo do tipo.
Tags: construtoras, federal, Ministério, perdão, público

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, é indiciado por quatro crimes pela Polícia Federal


Futebol

1/6/2015 às 19h07 (Atualizado em 1/6/2015 às 19h46)

Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, é indiciado por quatro crimes pela Polícia Federal

Denúncias começaram com uma série de reportagens do Jornal da Record
Do R7
Ricardo Teixeira foi indiciado pela PF por quatro crimes Getty Images
Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), foi indiciado pela Polícia Federal por quatro crimes, segundo reportagem publicada o site da revista Época e confirmada por uma fonte da Polícia Federal ouvida pelo R7: lavagem de dinheiro, evasão de divisas, falsidade ideológica e falsificação de documento público.
As denúncias contra o cartola tiveram origem em uma série de reportagens do Jornal da Record, e influenciaram diretamente na saída de Teixeira do comando da CBF, em 2012.
O Jornal da Record trouxe à tona o esquema de propina envolvendo as empresas ISL e Sanud, entre outros, que teriam rendido mais de US$ 9,5 milhões a Teixeira e seu sogro, o ex-presidente da Fifa João Havelange.
Também segundo a reportagem da Época, Teixeira movimentou R$ 464,56 milhões em suas contas durante o período da Copa do Mundo de 2014, disputada no Brasil. O cartola foi presidente do Comitê Organizador Local da Copa entre 2009 e 2012, quando renunciou ao cargo.
Procurador da República apoia Romário e pede "grande limpeza"
Diz o documento obtido pela revista: “Juntada das informações do Coaf, onde constam informações sobre altas movimentações financeiras realizadas por Ricardo Terra Teixeira, no montante de R$ 464.560.000,00 ( quatrocentos e sessenta e quatro milhões, quinhentos e sessenta mil reais), entre os anos de 2009 e 2012, sendo que tais foram considerados atípicos pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras)".
O relatório da Polícia Federal informou ainda que Teixeira mantinha contas no exterior e repatriou valores para poder comprar um apartamento no valor de R$ 720 mil, no Rio de Janeiro, que valeria, na verdade, cerca de R$ 2 milhões. Quem vendeu o apartamento para Ricardo Teixeira foi Cláudio Abrahão. Sua família é dona do Grupo Águia, fornecedor da CBF.
Ricardo Teixeira tem ainda outras propriedades milionárias, no Brasil e no exterior, que não condizem com os salários que recebia como presidente da CBF.
O cartola também está sendo investigado no escândalo de corrupção da Fifa que já mandou sete dirigentes para a cadeia, mas, até o momento, seu nome não apareceu como envolvido.
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sábado, 21 de março de 2015

Empreiteira da Lava Jato afirma que cartel atuou desde o governo FHC

De Brasília
  • Fernando Zamora/ Futura Press/ Estadão Conteúdo
    Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
Em acordo de leniência firmado pela Setal Engenharia e Construções com a Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (SG-Cade), a empresa afirmou que as empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato operam cartel para participar de licitações da Petrobras desde o final dos anos 1990.
O posicionamento da companhia segue na linha do que disse o executivo Augusto Mendonça, ex-representante da Toyo Setal, à Justiça Federal. Após firmar o acordo de delação premiada, ele disse que o cartel, chamado por ele de "clube" de empreiteiras que atuava nas licitações da estatal existe desde meados da década de 1990, período que abrange a gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Segundo Mendonça, ex-representante da Toyo Setal, o cartel "passou a ser mais efetivo a partir de 2004, graças às negociações dos diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Engenharia e Serviços)".
No histórico de conduta divulgado pelo Cade, com detalhes do acordo de leniência, a Setal e a SOG Óleo e Gás afirmaram que foi estabelecido "um sistema de proteção" entre as empresas para "combinar não competirem entre si em licitações relativas à obras da Petrobras no mercado 'onshore'".
O documento registra, ainda, que a empresas investigadas na Lava Jato se "reuniam, ainda que inicialmente de uma maneira não estruturada, com o objetivo de discutir e tentar dividir os pacotes de licitações públicas 'onshore' da Petrobras no Brasil".
As empreiteiras disseram que o cartel ficou mais bem definido a partir de 2003 ou 2004, com a chegada do ex-diretores de Engenharia e Serviços da estatal, Renato Duque, e de Abastecimento, Paulo Roberto Costa.
"A partir de 2003/04, os contatos entre concorrentes tornaram-se mais frequentes e estáveis, e algumas das empresas descritas no presente Histórico de Conduta passaram a se reunir, de forma estável e organizada, no âmbito do "Clube das 9", com o fim específico de combinar preços, condições, vantagens e abstenções entre concorrentes, em licitações públicas realizadas pela Petrobras no mercado de obras de montagem industrial "onshore" no Brasil", registra o documento.
O clube teria mudado para englobar 16 membros nos anos seguintes, segundo Cade, operando de maneira "anticompetitiva" devido à necessidade de acomodar mais empresas.

Por celular

O chamado "Clube das 16" operava até mesmo por meio de mensagens de celular. "Os contatos anticompetitivos se davam, sobretudo, em reuniões presenciais, mas também houve conversas ao telefone e trocas de SMS", registra o relato de acordo de leniência.
O nível de organização do grupo de empreiteiras mantinha também "tabelas contendo as informações sobre as obras anteriores que já tinham sido vencidas por cada uma das empresas" nas concorrências abertas pela Petrobras. Além de "informações sobre obras futuras previstas".
O documento do Cade registra ainda que "quem já tinha projetos vencidos ficava no final da fila de preferência, e quem tinha menos projetos vencidos com a Petrobras ficava no início da fila de preferências".
O clube de 16 empresas também convidava outras construtoras para participar do esquema "especialmente quando a lista de empresas que deveriam participar do certame (era) entregue pelo grupo aos dois diretores da Petrobras" - Renato Duque e Paulo Roberto Costa.

Acordo

O Cade celebrou acordo de leniência também com a SOG Óleo e Gás e pessoas físicas funcionários e ex-funcionários das empresas do grupo. O acordo, uma espécie de delação premiada, foi assinado em conjunto com o Ministério Público Federal do Paraná (MPF/PR), dentro da Força-Tarefa da Operação Lava Jato.
Os materiais obtidos por meio do acordo de leniência, assim como outros eventualmente colhidos pelo Cade, poderão ser utilizados pelo MPF/PR como subsídio no âmbito dos processos penais.
O Cade informa que, por meio desse acordo, os signatários confessam sua participação, fornecem informações e apresentam documentos probatórios a fim de colaborar com as investigações do alegado cartel entre concorrentes em licitações públicas de obras de montagem industrial onshore da Petrobras.
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Operação Lava Jato da PF113 fotos

112 / 113
17.mar.2015 - Ex-diretor da Área Serviços e Engenharia da Petrobras Renato Duque, chega ao Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba (PR), onde realizou exame de corpo de delito nesta terça-feira (17). Ele foi detido na 10ª fase da Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na estatal Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo

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sábado, 14 de março de 2015

Janot reage a críticas contra investigação da Lava Jato

Em discurso aos procuradores, Janot afirmou que continuará seu trabalho para garantir a independência do Ministério Público






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quinta-feira, 12 de março de 2015

STJ autoriza abertura de inquérito para investigar Pezão e Tião Viana

PGR vê indícios de envolvimento de governadores em esquema da Lava Jato.
Supremo já autorizou abertura de inquéritos para investigar parlamentares.

Renan Ramalho * Do G1, em Brasília

O ministro Luís Felipe Salomão, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), autorizou nesta quinta-feira (12) a abertura de inquéritos para investigar os governadores do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e do Acre, Tião Viana (PT), informaram fontes do tribunal à GloboNews.
Os dois foram citados por delatores da Operação Lava Jato como beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras. Eles negam as acusações. No inquérito de Pezão, também serão investigados o ex-governador do Rio Sérgio Cabral e o ex-chefe da Casa Civil Regis Fichtner.
Os pedidos de inquérito foram apresentados ao STJ no final da manhã desta quinta pela Procuradoria Geral da República, órgão que realiza as investigações e é responsável pela acusação.
Em depoimento dado com base em acordo de delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa afirmou ter arrecadado R$ 30 milhões para o caixa dois da campanha do ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), na eleição de 2010. Os recursos teriam beneficiado também o atual governador do estado, Luiz Fernando Pezão (PMDB), vice de Cabral na época. De acordo com o ex-diretor, o operador dos repasses foi o então secretário da Casa Civil de Cabral, Regis Fichtner. Os três negam as acusações.
No caso do governador do Acre, Paulo Roberto Costa afirmou que R$ 300 mil foram dados como "auxílio" à campanha eleitoral de Tião Viana para o Senado em 2010. Segundo o ex-diretor, o pagamento foi feito pelo doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal e um dos articuladores do esquema de corrupção. Viana diz que a doação foi registrada no Tribunal Regional Eleitoral do Acre e "não tem nada de ilegal".
Pezão
O governador Luiz Fernando Pezão afirmou, na tarde desta quinta-feira (12/3), que respeita a decisão da Procuradoria Geral da República de pedir abertura de inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para investigar a citação de seu nome em declarações dadas pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. 

Mas ele classificou como "estapafúrdio" o depoimento do ex-diretor da estatal e disse estar certo de que a investigação vai comprovar que a acusação é falsa. "Estou à disposição da Justiça, só quero ser ouvido.  Essa conversa nunca existiu. A acusação é falsa. Meu sigilo bancário está à disposição, só tenho uma conta. Minha declaração de bens é pública e também está disponível", afirmou o governador, ressaltando não ter sido oficialmente notificado e não ter constituído advogado.
Tião Viana
Procurado pelo G1, o governador Tião Viana informou, por meio da assessoria, que só deve se pronunciar sobre o assunto quando for notificado oficialmente sobre a investigação.

Em dezembro, ao ser diplomado governador, Viana afirmou que repudiava a citação de seu nome pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, em depoimento dado com base em delação premiada.
Na última terça-feira, o governador informou, por meio de nota, que a doação de R$ 300 mil para sua campanha de 2010 foi recebida e registrada no Tribunal Regional Eleitoral do Estado do Acre (TRE-AC). A prestação de contas, ainda segundo a nota, foi aprovada pelo TRE e não tem "nada de ilegal".
Sérgio Cabral e Regis Fichtner
A assessoria do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) divulgou a seguinte nota no final da tarde desta quinta:

Nota do ex-Governador Sérgio Cabral
Reitero os meus compromissos de toda a minha vida pública de respeito à independência do Ministério Público e do Judiciário brasileiros.
Tenho a consciência tranquila.
Reafirmo que é mentirosa a afirmação do delator Paulo Roberto Costa. Essa reunião jamais aconteceu. Nunca solicitei ao delator apoio financeiro à minha reeleição ao governo do Estado do Rio de Janeiro.
Todas as eleições que disputei tiveram suas prestações de contas aprovadas pelas autoridades competentes.
Reafirmo o meu repúdio e a minha indignação a essas mentiras.
Por meio de sua assessoria, Regis Fichtner reafirmou que nunca participou de nenhuma reunião com Paulo Roberto Costa, muito menos para tratar de arrecadação de recursos para campanha.
Na última segunda-feira, em nota, ele afirmou que tomará "as medidas cabíveis decorrentes das mentiras declaradas em relação à minha pessoa por parte do Sr. Paulo Roberto Costa, que incluirão pedido para que ele responda pelo crime cometido ao prestar tais declarações".
Indícios
O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu o início das investigações sobre os governadores por ver indícios de crimes atribuídos a eles nas apurações já realizadas.

Na mesma decisão que autorizou as investigações, Salomão derrubou o segredo de Justiça até então mantido sobre os pedidos.
O ministro também autorizou as primeiras diligências para coleta de provas (leia mais abaixo) e deu prazo de 20 dias para Pezão e Viana se manifestarem sobre os fatos descritos nos pedidos de investigação.
Diligências
Nos despachos que autorizaram os inquéritos, Salomão autorizou também as primeiras medidas de investigação.

A Polícia Federal deverá coletar no Hotel Caesar Park, em Ipanema, no Rio de Janeiro, informações e documentos, incluindo imagens, registros de entrada e saída, relacionados a uma reunião realizada no primeiro semestre de 2010 em um dos quartos, possivelmente locado por Regis Fichtner.

Além disso, a PF terá 90 dias para tomar depoimentos de Cabral e Fichtner, além dos executivos Cláudio Lima Freire (da empresa Skanska), José Aldemário Pinheiro Filho (da construtora OAS), Ricardo Ribeiro Pessoa (da UTC), César Luiz de Godoy Pereira (Alusa), Ricardo Ourique Marques (Techint), Rogério Santos de Araújo e Márcio Faria da Silva (ambos da Odebrecht).

A PF também fará uma análise das doações realizadas aos comitês financeiros da campanha eleitoral de 2010 ao governo do Rio de Janeiro registradas no Sistema de Prestação de Contas Eleitorais (SPCE) do Tribunal Superior Eleitoral.

Futuras diligências podem incluir quebras de sigilo (telefônico, bancário ou fiscal) ou interceptações telefônicas, por exemplo. É comum que elas sejam mantidas sob sigilo, para evitar que o investigado se antecipe e elimine rastros de delitos eventualmente cometidos.
Julgamento
O STJ é o foro competente para julgar, por crimes comuns, governadores de estado, desembargadores de tribunais estaduais e federais, além de membros de tribunais de contas dos estados – no Supremo Tribunal Federal (STF) são julgados ministros, deputados e senadores.

Os governadores, no entanto, são julgados no STJ pela Corte Especial, composta por 15 ministros. Os demais vão para a 5ª Turma, colegiado menor, formado por cinco magistrados. O STF, por sua vez, julga deputados, senadores e ministros.
Na semana passada, o Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou pedido enviado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para investigar políticos citados por delatores. Na semana passada, o órgão enviou ao STF 25 pedidos de inquérito, já autorizados pelo relator na corte, ministro Teori Zavascki.
Entenda a Lava Jato
A Operação Lava Jato começou investigando um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas que teria movimentado cerca de R$ 10 bilhões. A investigação resultou na descoberta de um esquema de desvio de recursos da Petrobras, segundo a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.

Na primeira fase da operação, deflagrada em março deste ano, foram presos, entre outras pessoas, o doleiro Alberto Youssef, apontado como chefe do esquema, e o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
A sétima fase da Lava Jato, deflagrada em novembro de 2014, teve como foco executivos e funcionários de nove grandes empreiteiras que mantêm contratos com a Petrobras em um valor total de R$ 59 bilhões.
Parte desses contratos está sob investigação da Receita Federal, do MPF e da Polícia Federal. Só na sétima etapa da operação, foram expedidos 85 mandados de prisão, de busca e apreensão e de condução coercitiva (quando o investigado é levado pela polícia para depor) em municípios do Paraná, de Minas Gerais, de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Pernambuco e do Distrito Federal.
Segundo o Ministério Público Federal (MPF), a Lava Jato cumpriu 64 mandados de prisão, 201 de busca e apreensão e 55 de condução coercitiva. Ao todo, 150 pessoas e 232 empresas estão sob investigação da Procuradoria.
* Colaboraram o G1 São Paulo e o G1 AC
 

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quinta-feira, 5 de março de 2015

Janot ao MP: Lava Jato chega a momento crucial.


247 – Em carta endereçada a seus colegas do Ministério Público, procurador-geral da República, Rodrigo Janot, alerta: “a Operação Lava Jato chega a um momento crucial” com a lista de pedidos de investigação enviada ao STF.

“Estou certo que, uma vez levantado o sigilo do caso pelo Ministro Teori Zavascki, o trabalho até este momento realizado será esquadrinhado e submetido aos mais duros testes de coerência”, diz. “Não espero a unanimidade nem a terei”, acrescenta.
A Procuradoria-Geral da República protocolou na noite de terça-feira, no Supremo Tribunal Federal (STF), a lista com pedidos de abertura de inquérito a fim de investigar pessoas suspeitas de envolvimento no caso de corrupção da Petrobras.
Constam, no total, 54 nomes de investigados e feitos 28 pedidos de abertura de inquérito. Nem todos têm foro privilegiado. Além disso, foram feitos sete pedidos de arquivamento.
Janot decidiu solicitar a abertura de inquéritos contra os presidentes das duas casas legislativas, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Por outro lado, decidiu arquivar os pedidos de investigação contra o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e a presidente Dilma Rousseff.
Em outro trecho da carta, Janot diz: “Não guardo o dom de prever o futuro, mas possuo experiência bastante para compreender como a parte disfuncional do sistema político comporta-se ao enfrentar uma atuação vigorosa do Ministério Público no combate à corrupção”.
Leia abaixo a carta de Janot ao MP:
Ministério Público – compromisso e fidelidade
Colegas,
Abro uma necessária pausa em meio às tribulações próprias do cargo de Procurador-Geral para dirigir a todos os membros do Ministério Público brasileiro uma palavra de confiança.
Sou grato por ter, no inverno da minha longa carreira pública, a ocasião de servir ao meu País e, especialmente, à sociedade brasileira, na qualidade de Procurador-Geral da República. Quis o destino, também, que eu estivesse à frente do Ministério Público Federal no momento de um dos seus maiores desafios institucionais.
A chamada “Operação Lava Jato” chega a um momento crucial. Encaminhei, na noite de ontem, pedidos de investigação e promoções de arquivamento em relação a diversas autoridades que possuem prerrogativa de foro.
Com o inestimável auxílio de Colegas do Grupo de Trabalho baseado em Brasília, da Força-Tarefa sediada em Curitiba e da assessoria do meu Gabinete, examinei cuidadosamente todas as particularidades que envolvem este caso e estabeleci um critério técnico e objetivo para adotar as medidas necessárias à cabal apuração dos fatos.
Diante das inúmeras e naturais variáveis decorrentes de uma investigação de tamanha complexidade, fiz uma opção clara e firme pela técnica jurídica. Afastei, desde logo, qualquer outro caminho, ainda que parecesse fácil ou sedutor, de modo que busquei incessantemente pautar minha conduta com o norte inafastável das missões constitucionais do Ministério Público brasileiro.
Estou certo que, uma vez levantado o sigilo do caso pelo Ministro Teori Zavascki, o trabalho até este momento realizado será esquadrinhado e submetido aos mais duros testes de coerência.
E assim ocorrerá porque é um valor central da Democracia e do Princípio Republicano a submissão de qualquer autoridade pública ao crivo dos cidadãos brasileiros. Entendo, desde sempre, que essa lição deve ser acatada, com ainda maior naturalidade, por todos os Membros da nossa Instituição.
Não espero a unanimidade nem a terei. Desejo e confio, sim, nesse momento singular do País e, particularmente, do Ministério Público brasileiro, que cada um dos meus Colegas tenha a certeza de que realizei meu trabalho em direção aos fatos investigados, independentemente dos envolvidos, dos seus matizes partidários ou dos cargos públicos que ocupam ou ocuparam.
Busco inspiração, com essas minhas breves palavras, na Unidade do Ministério Público brasileiro, sabedor que os esforços de todos os integrantes da nossa Instituição igualam-se na disposição de servir.
Não guardo o dom de prever o futuro, mas possuo experiência bastante para compreender como a parte disfuncional do sistema político comporta-se ao enfrentar uma atuação vigorosa do Ministério Público no combate à corrupção.
Não acredito que esses dias de turbulência política fomentarão investidas que busquem diminuir o Ministério Público brasileiro, desnaturar o seu trabalho ou desqualificar os seus Membros. Mas devemos estar unidos e fortes.
Ao longo de sua extraordinária história, o Ministério Público brasileiro deu mostras de sua têmpera e de sua capacidade de superar qualquer obstáculo que venha a se interpor no caminho reto a ser seguido. Guardo-me, assim, na paz de quem cumpre um dever e na certeza de que temos instituições sólidas e democráticas. Integramos uma delas.
Estejamos unidos. Sigamos o nosso caminho. Sejamos fiéis ao nosso País.”
Paciência e confiança!
Forte abraço,
Rodrigo Janot
Fonte: Brasil 247 www.brasil247.com

domingo, 1 de março de 2015

http://www.decolar.com/passagens-aereas/cgr/rio/passagens-aereas-para-rio+de+janeiro-saindo-de-campo+grande?gclid=CJP7jerah8QCFQ0jgQoddKkAUw&searchType=ONEWAY&mktdata=kw%3D%26c%3D46361761979%26mt%3D%26n%3Dd%26p%3Dcongressoemfoco.uol.com.br%26ap%3Dnone%26d%3Dc%26dm%3D%26pageIndex%3D1%26gclid%3DCJP7jerah8QCFQ0jgQoddKkAUw%26id%3D20150301174610159173162930817370%26trackeame_user_id%3DFA163E1790011424714979237ad9012bf-c1b1-4825-b693-541a5e4db3b635805661&sem_clicks=2

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Todos contra Moro: operador do PMDB também ataca juiz

Em resposta à acusação de que arrecadaria propina, Fernando Baiano atacou juiz e acusação, mas não apresentou argumentos para provar inocência

Laryssa Borges, de Brasília
EXPLOSÃO – Fernando Baiano: o lobista, que está foragido, ameaça contar o que sabe e elaborou uma lista com beneficiários de propina ligados ao PMDB
EXPLOSÃO – Fernando Baiano: o lobista elaborou uma lista com beneficiários de propina ligados ao PMDB (VEJA)

Dando sequência à "operação mãos sujas" colocada em curso pelos advogados dos empreiteiros presos no escândalo do petrolão, a defesa do lobista apontado como operador do PMDB no esquema, Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, também tenta anular as delações do doleiro Alberto Youssef, do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e de outros colaboradores da Justiça. As delações têm sido um eficaz mecanismo para que investigadores desvendem os nomes de autoridades – incluindo deputados, senadores e ex-governadores – que se locupletaram com o caixa da Petrobras. Diante da perspectiva de duras penas a serem aplicadas pelo juiz federal Sergio Moro e da possibilidade de divulgação de provas incontestes contra políticos que se beneficiaram do esquema, anular as colaborações dos demais envolvidos no petrolão tornou-se ponto crucial para grandes empreiteiros e empresários presos na Lava Jato. E a estratégia inclui investidas contra Moro, que conduz de forma implacável os processos da Operação Lava Jato.
Em documento enviado a Moro, a banca de defesa de Fernando Baiano vai ao extremo: compara a situação do lobista a casos de executados pelas forças da Inquisição, na Idade Média, e ataca o próprio juiz, a quem acusa de incorporar a tese de “justiçamento” e de promover “terror penal”. Embora tenha destinado quase 90 páginas para atacar Moro, o Ministério Público e os métodos de investigação da Operação Lava Jato, Fernando Baiano não reserva uma linha sequer a argumentos que poderiam minimizar as denúncias de que durante anos operou um propinoduto na petroleira para o PMDB.
Na tentativa de desqualificar os acordos de delação premiada, o lobista, acusado pelo Ministério Público de ter cobrado 40 milhões de reais em propina em dois contratos com a Petrobras, questiona a “ética” da colaboração de criminosos e compara a prática a medidas típicas de estados totalitários. “Não se pode instaurar uma ética pragmática, utilitária e autoritária em que os fins justificam os meios, a utilizar o cidadão como instrumento de realização de uma suposta justiça rápida, asséptica, despreocupada e descompromissada com os direitos e garantias individuais, muito ao feitio de um Estado duro e reacionário, que constrange o cidadão a renunciar direitos fundamentais em prol de eficiência persecutória”, afirma o advogado Nélio Machado.
Em sua manifestação à Justiça, Fernando Baiano ainda classifica a denúncia do Ministério Público como “inservível e imprestável”, diz que a acusação de que ele recebeu propina é “absurda” e questiona o fato de as audiências para ouvir testemunhas já estarem marcada antes mesmo de o juiz analisar as respostas apresentadas pelos réus.
Para a defesa do operador do PMDB, não há paridade de armas entre a acusação, que celebra acordos de delação com pessoas como o doleiro Alberto Youssef, e a defesa, que não tem acesso completo ao teor das declarações do colaborador. O conteúdo das delações premiadas de Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa permanecem sob sigilo e trazem dezenas de nomes de parlamentares que receberam propina, incluindo referências a peemedebistas que receberam dinheiro após a atuação de Fernando Baiano. “O fato é que o acordo de delação, na espécie, é um ‘faz de conta’ em que o conteúdo e os termos satisfazem substancial e unicamente a acusação. Não são as tesouras e as garras metálicas, os chicotes e as barras de ferro aquecidas, muito próprios da Inquisição, mas um outro modo sutil e cruel: envolvimento de familiares, manutenção sem termo em custódia, apresentação de acusações em doses homeopáticas e perspectiva de condenação a penas desproporcionais, de grande extensão e de extrema gravidade; tudo aparenta um justiçamento sumário”, afirma Nélio Machado.
“O segredo e sigilo de provas transforma a presente ação penal em verdadeira ‘cruzada judiciária’. A hipertrofia da acusação é característica de Estado autoritário, cujos instrumentos, meios e prazos são favorecidamente postos nas mãos do Ministério Público, a quem se concede especial privilégio e se permite grande desenvoltura para o trabalho acusatório”, completa ele.
Ao longo de sua batalha para tentar anular as informações recolhidas pelos investigadores, os defensores de Fernando Baiano se propuseram também a fazer uma espécie de raio-X da trajetória do juiz Sergio Moro, levantando opiniões do magistrado sobre processos penais desde 2004. A investida visa a apontar que ele não é “imparcial” para julgar os réus da Operação Lava Jato. Para afastar o juiz do caso, a defesa cita argumentos semelhantes aos apresentados por outros réus, como o fato de Moro já ter se declarado suspeito para julgar um antigo processo contra Alberto Youssef; de as suspeitas de crime não terem ocorrido no Paraná; e até a tese de que um antigo processo de Youssef com o ex-deputado José Janene, morto em 2010, deveria levar os autos para o Supremo Tribunal Federal (STF). A defesa do lobista, contudo, vai além: diz que Sergio Moro concentra o papel de acusador e julgador e seria a encarnação brasileira da Operação Mãos Limpas, uma das maiores operações anticorrupção da história europeia e que levou à investigação de mais de 6.000 pessoas suspeitas de negociar propina e desviar recursos para o financiamento de campanhas.
“O que se assiste em Curitiba é a tradução ao português da 'operação mãos limpas', a seu modo e à sua maneira, menoscabo às garantias constitucionais. O magistrado, quem quer que seja, deve se conter, nunca agir mediante íntima convicção, senão como elemento inerte nos autos, imparcial no sopesamento das idas e vindas da balança do contraditório”, critica a defesa de Fernando Baiano. “O modelo em que se inspira [Moro] é o dos juízes acusadores, os de instrução, e não os de julgamento, que não se envolvem com os casos que lhes são submetidos, em relação aos quais devem ter isenção e equidistância. Fazer cruzada não é papel de juiz, e a apologia é temerária”, completa.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Prisão de doleiro que fez delação é limitada a 5 anos



http://www1.folha.uol.com.br/poder/2015/01/1578568-prisao-de-doleiro-que-fez-delacao-e-limitada-a-5-anos.shtml?cmpid=newsfolha

PF abre nova frente para apurar remessa de R$ 323 milhões






A vendedora de roupas Vanessa Regina de Almeida Dutra Pontes, 38, viúva e mãe de dois filhos, com uma renda mensal declarada de R$ 1,2 mil, disse que custou a crer na informação da Operação Lava Jato de que era dona de uma empresa que recebeu R$ 59 milhões entre dezembro de 2012 e abril de 2013.
"Eu chorei, chorei, preocupada com meus filhos. Eu tenho como provar que não peguei um centavo", disse Vanessa, que reside na periferia de Curitiba (PR). "Me falaram que tinha milhões lá. Eu falei: 'Meu Deus do céu, vocês estão ficando loucos?'."
A empresa registrada em nome de Vanessa, a madeireira Alnapa Soluções, é apenas a ponta de uma nova frente de investigação aberta pela Polícia Federal sob acompanhamento do juiz de Curitiba (PR) Sergio Moro como um desdobramento da Lava Jato.
Em novembro último, o Banco Central informou a Moro que um grupo de cinco empresas relacionadas financeiramente com a Alnapa e uma segunda firma, a WS Business, enviaram para o exterior US$ 124 milhões (ou R$ 323 milhões ao câmbio desta quarta) por meio de contratos de câmbio somente entre janeiro de 2012 e março de 2014.
A Fazenda informou a Moro que quatro dessas empresas "não foram habilitadas para atuar no comércio exterior" e uma teve a habilitação suspensa por inatividade. A PF apontou indícios de que as empresas são "de fachada, com vultosas movimentações financeiras entre si".
A City Clean Serviços Especiais, que remeteu mais de US$ 7,8 milhões, por exemplo, funcionava numa casa de madeira sem letreiros no bairro Cajuru, em Curitiba.
Segundo Vanessa, ela forneceu seus dados para a abertura da Alnapa a pedido de um conhecido, o vendedor de cosméticos Djalma Aparecido Machado, 49.
Também localizado pela Folha, Machado disse que fez apenas uma operação de importação, no valor de cerca de US$ 100 mil, e desconhece todo o resto movimentado pela empresa. Ele afirmou que seus dados "foram usados indevidamente por corretoras de São Paulo".
Machado e Vanessa prestaram depoimento à PF em novembro. A PF agora tenta descobrir quem são os donos do dinheiro remetido ao exterior e principalmente o destino final dos valores.
A Folha apurou que a polícia não sabe até o momento se as firmas foram usadas para escoar propina relativa a obras da Petrobras ou se é um outro esquema paralelo sem conexão com o escândalo da petroleira.
O esquema de remessas por contratos de câmbio também foi utilizado pelo doleiro Alberto Youssef para enviar para fora pelo menos US$ 239 milhões entre 2009 e 2014. Parte desse dinheiro chegou ao ex-diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa.
O sistema funciona da seguinte forma: a empresa brasileira envia o dinheiro para o exterior sob alegação de que está comprando materiais de empresas estrangeiras; o dinheiro é enviado, mas o material nunca chega ao Brasil.
A Folha não conseguiu localizar os responsáveis pela City Clean, Conferlix, DJJ, Dantas Import e Sena e Franca. A PF também continua atrás de seus proprietários.
A pista que levou às seis empresas surgiu no depoimento do consultor Luccas Pace Júnior, condenado por evasão de divisas em outro processo da Lava Jato por ligação com a doleira Nelma Kodama.


Editoria de Arte/Folhapress


segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Governo busca testemunhas da Lava Jato em cinco países


O Ministério da Justiça requisitou aos governos de cinco países colaboração para localizar e ouvir seis testemunhas citadas em uma ação penal da Operação Lava Jato que trata da remessa de recursos aos exterior por meio de contratos de câmbio.
A informação foi prestada em ofício ao juiz federal de Curitiba (PR) Sergio Moro, que conduz os inquéritos e processos da Lava Jato.
Uma das pessoas a serem localizadas é o advogado Michael Reason, que mora em Londres, citado no processo como "responsável pela organização" da companhia de fachada Santa Tereza, usada por Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, para receber no exterior recursos de propinas relativas a obras e contratos com a petroleira.
Segundo cópias de extratos apreendidos pela Polícia Federal em São Paulo, a Santa Tereza recebeu pelo menos US$ 18,8 milhões entre junho de 2012 e janeiro de 2014. Um dos principais depositantes foi um braço internacional da construtora OAS, a OAS African, com US$ 4,8 milhões.

Ricardo Borges/Folhapress
O juiz Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato
O juiz Sergio Moro, que conduz os processos da Lava Jato
O Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Ministério da Justiça acionou autoridades da Suíça, Cingapura, Panamá, Reino Unido e Hong Kong (região administrativa da China) para localizar e interrogar os citados.
Além de Reason, deverão ser ouvidos dois funcionários do banco PKB Privatbank (Suíça); um diretor de empresas no Panamá; outro responsável por abrir duas companhias em Cingapura e um morador de Hong Kong ligado a duas empresas exportadoras.
As pessoas foram arroladas por um dos réus no processo, João Procópio Prado que, segundo a denúncia do Ministério Público Federal, seria "operador das contas" de Alberto Youssef no exterior, além de administrar empresas do doleiro –preso desde março– "em nome de pessoas interpostas no Brasil".
Segundo a acusação, Procópio e outros promoveram, entre 2001 e março de 2014, "evasão fraudulenta de divisas" de US$ 78,2 milhões por meio de 1.114 "contratos de câmbio fraudulentos", que simulavam compra de produtos no exterior que acabavam não chegando ao Brasil.
A acusação contra Procópio foi acolhida por Moro, que abriu ação penal. Além dele, são réus no mesmo processo Youssef, a doleira Nelma Kodama e o entregador de dinheiro em espécie Rafael Ângulo Lopez, dentre outros.
Moro manifestou sua "preocupação" sobre a tramitação do processo, tendo em vista o número de 57 testemunhas arroladas por Procópio, no exterior e em cinco Estados brasileiros: "A máquina judiciária não deve ser movimentada à toa, com dispêndio e custos aos serviços judiciais e ao contribuinte".
Na defesa prévia, os advogados de Procópio disseram ser "essencial a oitiva de todas as testemunhas para o exercício dos direitos constitucionais da ampla defesa e do contraditório". Também alegaram "usurpação da competência" do STF (Supremo Tribunal Federal) e "ausência de incorporação aos autos eletrônicos de todos os documentos apreendidos".
Indagada em outubro sobre os depósitos na Santa Tereza, a OAS não se manifestou. Procurada neste domingo (11), a empresa não respondeu até o fim desta edição.

domingo, 11 de janeiro de 2015

Chinaglia avança após novo indício de cumplicidade entre Eduardo Cunha e doleiro

10/1/2015 14:26
CORREIO DO BRASIL - Por Redação - do Rio de Janeiro

Chinaglia falou a um grupo de parlamentares, em um encontro no Rio
Chinaglia falou a um grupo de parlamentares, em um encontro no Rio
Na corrida à Presidência da Câmara dos Deputados, o parlamentar petista Arlindo Chinaglia (SP) ganha terreno sobre seu principal adversário, Eduardo Cunha, após ter seu nome citado na Operação Lava-Jato, da Polícia Federal (PF) e ser apontado por seu possível envolvimento com o doleiro Lúcio Funaro, condenado no julgamento da Ação Penal (AP) 470, processo conhecido como ‘mensalão’, segundo denúncia do deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ), em seu blog. Segundo o ex-governador fluminense, com esses novos dados sobre possíveis negócios escusos de Cunha, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, “acerta na mosca”.
– Quando fui governador, demiti o Eduardo Cunha por conta de suspeitas graves sobre a gestão de dinheiro público – afirmou Garotinho, em entrevista ao Correio do Brasil e ao site de notícias Conexão Jornalismo, durante reunião de apoio a Chináglia, em um restaurante da Zona Sul do Rio.
Chinaglia foi recebido, no encontro, pelas deputadas Jandira Feghali (PCdoB) e Clarissa Garotinho (PR) entre outros. O deputado chegou com um atraso de três horas.
Na entrevista, Garotinho antecipou razões pelas quais acredita que a candidatura de Cunha foi gravemente atingida por documentos que revelam o envolvimento do parlamentar na Lava-Jato.
Clarissa, a escolhida pelo PR para dar as boas vindas à Chinaglia, arrematou em público: “é inaceitável que um homem envolvido até os fios de cabelo no escândalo Lava-Jato possa pleitear a Presidência da Casa”.
Garotinho disse que a chave para chegar à parte mais sensível da candidatura Cunha tem nome e alguns contatos políticos importantes:
– Eric David Bello foi sócio da corretora de valores mobiliários Turfa, sendo responsável por prejuízos milionários no Rio-Previdência e na Prece, o fundo de previdência da Cedae. Ele é homem ligado a Eduardo Cunha e está envolvido até o último fio de cabelo na Operação Lava Jato. Eric e sua mulher foram conduzidos coercitivamente por policiais até a sede da Polícia Federal no Rio de Janeiro a fim de prestarem esclarecimentos sobre a sua participação no caso – disse o ex-governador.
No seu discurso na Fiorentina, de onde saiu convencido de que levava consigo o apoio de 19 dos 46 parlamentares fluminenses, Chinaglia fez um apelo para que a sociedade se mobilize e impeça a eleição do adversário.
– O eleitor exige exemplo de quem o representa – disse.

Jandira Feghali alertou que estava em jogo mais do que uma disputa pela Presidência:
– Trata-se de uma eleição. Temos que encarar com a seriedade necessária porque não poderemos minimizar esta disputa. Uma derrota poderá colocar em risco o crescimento que o país tem alcançado nos últimos anos, além de comprometer a imagem do Congresso Nacional – disse.
Outros deputados e políticos presentes: o presidente regional do PRB, Eduardo Lopes, Sóstenes Cavalcante, do PSB, Hugo Leal, do PROS, João Batista, presidente do PCdoB, Benedita da Silva, Edson Santos, Jorge Bittar, Fabiano Horta e Chico D’angelo, todos do PT. Jean Wyllys (PSOL), que era aguardado no almoço, alegou problemas de agenda para não comparecer. Mas seu colega de partido, Chico Alencar, também é postulante à Presidência, assim como Julio Delgado e Jair Bolsonaro.
A eleição deverá se realizar em dois turnos e seu término será em 2 de fevereiro.
Possível derrota
Ciente de que a situação, a partir do envolvimento do seu nome no escândalo Lava-Jato, tornou-se nada confortável, Eduardo Cunha já avisou que se transformará no principal opositor do governo Dilma no Congresso caso perca a disputa. Para começar tentará fazer aprovar uma nova investigação sobre a Petrobras. Seria a terceira CPI envolvendo o nome da empresa.
“O depoimento do policial federal conhecido como Careca, que entregava dinheiro de propina a políticos, enviado pelo doleiro Alberto Youssef acusa Eduardo Cunha de ser um dos beneficiários do esquema. Careca teria levado dinheiro na casa do deputado. Mas isso é fichinha perto do depoimento de Youssef que já teve sua delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal. A delação do doleiro pode ser o tiro de misericórdia na candidatura de Cunha à presidência da Câmara”, escreveu Garotinho, em seu blog.
– Como podem ver, Cunha e seu grupo agora partem para as ameaças e já admitem uma possível derrota. É uma mudança de postura radical, antes estavam em clima de ‘já ganhou’. Isso demonstra que Eduardo Cunha sentiu o golpe de ter seu nome envolvido entre os supostos beneficiários de propina do Petrolão que o MPF pedirá para serem investigados. E janeiro está só no começo. Até a eleição, no início de fevereiro, ainda teremos muitos rounds nessa disputa – acrescentou, na entrevista.
Eric David Bello foi sócio da corretora de valores mobiliários Turfa, “sendo responsável por prejuízos milionários no Rio-Previdência e na Prece, o fundo de previdência da Cedae”, concluiu.