sábado, 13 de fevereiro de 2010

Gilberto Costa
Da Agência Brasil
Em Brasília

A prisão do governador José Roberto Arruda (ex-DEM, hoje sem partido) causou impacto no meio acadêmico, em especial entre os cientistas políticos. O professor Edir Veiga, da Universidade Federal do Pará (UFPA), destaca a “sinalização positiva” do Poder Judiciário, que teve “coragem em cortar a impunidade”. Para Rodolfo Teixeira, da Universidade de Brasília (UnB), o episódio mostra que “pode haver limite para a impunidade”.

“Aquela situação confortável foi colocada em xeque”, disse Teixeira, fazendo referência ao comportamento da base aliada do governo na Câmara Distrital. “As instituições começam a funcionar”, avalia positivamente o acadêmico de Brasília.

Já Amâncio Jorge Oliveira, do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo (USP), confirma a repercussão da prisão fora de Brasília, mas tem dúvidas sobre o saldo da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que determinou a prisão do governador. “Isso significa de fato um ponto de inflexão ou um factóide não sustentável?”, pergunta.

Rafael Cortes, analista político da consultoria Tendências, avalia que a prisão de Arruda tem um “efeito simbólico substantivo” e repercute também no ambiente empresarial, lembrando que esta semana o governo anunciou o envio de um projeto de lei prevendo multa e fechamento de empresas que corromperem a Administração Pública.

O analista avalia que a prisão reforça a imagem negativa da classe política e da capital federal, “mas não agrava”. Já para Rodolfo Teixeira, a imagem dos políticos em Brasília “não é diferente de outros lugares”, citando como exemplo casos e denúncias de corrupção envolvendo o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta (morto em 2009) e a atual governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius (PSDB-RS).

Os tucanos, aliás, na avaliação dos cientistas políticos, poderão ser afetados com o episódio. “A oposição vinha usando, ainda que sem sucesso, o tema do mensalão ligado ao governo federal. Agora essa situação pode se inverter”, disse Amâncio Jorge, da USP.

“O antigo mensalão [de 2005] foi absorvido pela opinião pública. Esse novo [ligado aos Democratas, que mantém aliança com o PSDB] acontece mais próximo às eleições e quebra uma das pernas da oposição."

Além do cenário nacional, a crise no governo Arruda tem impacto imediato no quadro político do Distrito Federal. Para o cientista político David Fleischer, existe a possibilidade de “renovação” das cadeiras da Câmara Distrital, mas a ausência consumada de Arruda e a provável não candidatura do vice-governador Paulo Octávio (DEM-DF) devem “deixar o caminho totalmente aberto para a volta de [Joaquim] Roriz [ex-PMDB, atual PSC-DF]”, assinala, afirmando ainda que não sabe se o campo de centro-esquerda terá condições de lançar um candidato único e competitivo.

Rodolfo Teixeira discorda: “vai haver pressão para que outras pessoas sejam punidas”. Em sua opinião, o ex-governador Roriz é atingido indiretamente, uma vez que o escândalo teria começado no governo dele, que antecedeu o de Arruda.


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